JOSÉ CARLOS A. BRITO
( Brasil – São Paulo )
Articulista, editor de livros e dos jornais alternativos: Jornalivro e Expresso ABC.
Nasceu em 10/05/1947.
É Técnico Social da ONG ACA, atuando na Zona Leste da Grande São Paulo.
Publicou: O DIA EM QUE SECOU A INTELIGÊNCIA (com apresentação de Pedro Casaldáliga); MEMÓRIA DA PEDRA; SONETOS DE VIAGEM; POESIAS PARA DESENHOS ERÓTICOS DE RODIN; RAÍZES; AÇÃO URBANA DE RISCO CALCULADO.
OFICINA – cadernos de poesia 29. Rio de Janeiro: OFICINA Editores, 2001. 108 p. 23 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
ANIVERSÁRIO DA TORTURA DE
ETIENE MACIEL
(Do livro: O Dia Em Que Secou a Inteligência)
Como podem sorrir depois, (se o mundo é breve)
O sol, o verde e as lindas mariposas
Se é cortada a energia das árvores frondosas
Violados os corpos e rasgada a pele.
Pensar é um refúgio da mente inviolada.
Penetro em seu seio sem sonho mudo.
E ao vislumbrar um fim eliminando tudo,
Recolho no silêncio a eternidade limitada.
Em minha ausência diária, finjo que morro.
Que por momentos faço para refletir o mundo.
E finjo ser esperança de meu próprio socorro.
Continuo sentindo um pensamento imundo:
Vão sendo jogadas num mundo sem fundo
Primaveras torturadas em profundo choro.
RECEITA DE CURA PELO SEXO
(Do livro: Sonetos de Viagem)
Quando um mal nos abate sobre a cama
E adoecem coração, fígado, com febre alta
Junte-se uma pele morena ao amor que falta
Ou corra-se com urgência a quem se ama.
Troquem-se mãos, olhem-se olhos. Ou, em devaneio,
Procurem-se pernas com perseverança e desejo.
Misture-se um aboca com um seio.
Acenda-se o apagado corpo com um beijo.
A febre vai cedendo, o coração se acalma
O pâncreas já trabalha, os rins entram em festejo.
Mas, pese o remédio, se a doença for mais grave.
Mergulhe-se na natureza, sem ansiedade.
Tecendo teias entre as árvores e o monte,
Para alguém, à procura da receita, nos encontre.
UM CÂNTICO SUBLIME ECOA
(Do livro: Memória da Pedra)
Chove uma água de vencido sol. E etérea
A dura memória da pedra chora.
O espelho da passageira ideia
Grava seus semblantes, na caverna sonora.
O tique-taque do relógio bate sua hora:
Em imperceptível avanço, o destino cobra
De uma "inteligência" que sem alma se devora
Julgando ser cultura de sua própria obra.
Como flecha, um ônibus desliza, insano
Em prazeres sufocados de um asfalto reto
(O atraso deu tecnologia ao verme humano)
Para tão pouca sensação, quanta morte.
Quando na floresta um cântico sublime ecoa
De um pássaro "torpe" que sem muito esforço voa.
MENINA SE MASTURBA NA RUA ESCURA
(Do livro: Poesia para Desenhos Eróticos de Rodin)
Do infinito surge com trágica olhada
A luz chega cega à menina deitada
Nua, a menina encolhe-se nela.
Se masturba, e seu brilho a veste de estrela.
Nádegas florescem como rosa soberba
A lua masturba sua nádega esquerda
E a outra desperta vermelha, fervente
Que paraíso sente! A menina inocente.
O ânus desponta na mão. E sem medo
Em ânsia de gozo o corpo se curva.
Membros internos beijam-se em segredo.
Faz sua mão punhal que introduz.
Na avenida escura seu corpo reluz.
Não há mais punhais além de seu dedo.
AMOR DE DOIS VASOS CHINESES
EM METAMORFOSE
(Do livro: Sonetos de Viagem)
De tão intenso amor, seria curta chama,
Para aplicar a ardência, sem morrer o fogo
Queria ser um vaso, feito de seca lama
A teu lado, vaso, do mesmo seco lodo
Se ao fim da queima, nascesse ventania
Vencendo o fim de amor, um vento de abraços
Jogasse-nos ao chão, partindo em mil pedaços
O meu é teu ser de barro, juntos, os dois vasos
De tanto desejo aceso, exercitado em vida
Alguém, penalizado, ao recolher os pedaços
Juntasse os cacos do lodo e da lama partida:
Serias tu, reconstituída, com parte minha,
Refeita em nova alma, com forma de jarro
E eu, vaso renascido, com parte de teu barro.
A PAZ DO TRANSFORMISTA EM GUERRA
(Do livro: Sonetos de Viagem.
Para a transformista Lohana Berkins.
O universo em expansão feminina, se tornará denso
E reverterá sua densidade máscula em explosão.
A mulher intensa, desejará transformar-se em homem
Para conhecer o masculino mistério de seu tesão.
O homem sensível, será mulher para melhor saber
Em sua própria pele, porque tanto ama aquele ser:
De muito desejar o leite de seus seios, quererá tê-los
Gostará de deixar crescer em si, os seus cabelos.
O mar será deserto para entender o prazer da seca,
O deserto terá, um dia, vontade de água fresca.
A ingênua alegria de criança transformista, será dor.
Mas, a consciência nascerá do charco, como flor:
Um transformismo de amor que virará a terra
Com vestidos de paz em seus uniformes de guerra.
*
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Página publicada em novembro de 2022
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